quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ser irmão...

Se aceitarmos que a sublime grandeza que caracteriza a criação artística reside no facto de não só evocar/manifestar o universo do criador mas, e não menos, fazer despertar/libertar no apreciador uma infinita combinatória interpretativa, que em si mesma também é acto de criação, então que se me permita lembrar algumas palavras do maçom Fernando Pessoa (Irmão Hiram) que a seguir livremente interpretarei:

Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.

Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta


Quando observo, como maçom, a caminhada dos meus irmãos mais novos/recentes, ou constato o eventual interesse de tanta gente pelos trabalhos que se oferecem a um maçom realizar, não posso deixar de invocar as palavras do mestre Fernando Pessoa pois nestas vejo, e cá está o direito à minha perspectiva hermenêutica, uma das pedras basilares que o progresso maçónico exige a cada um dos membros da Irmandade... Entre si, desenvolver um profundo espírito de entre-ajuda... Não esperar que um irmão bata à nossa porta para que lhe estendamos a mão e lhe prestemos o nosso mais profundo dever de solidariedade, como faríamos ao nosso ente mais querido... Mas tal altruísmo deve também estender-se fraternalmente a toda a comunidade.

Quando se pergunta "como entrar para a maçonaria?" resulta imperativo, direi eu então, reflectir/questionar em primeiro lugar, da nossa disposição de querer ver no outro que me cerca alguém a quem não me importaria de chamar irmão.

Assim se compreende como a tantos atraem os mistérios da maçonaria, mas como em poucos se acha a necessária força espiritual de incorporar os seus simbólicos mistérios... Os mistérios da Arte Real...

David

1 comentário:

Anónimo disse...

Ser Irmão ou não...

É no interior de cada um, que se esconde o Irmão ou não.. No silêncio interior o descobrimos, melhoramos ou não.. A Maçonaria não nos ensina a fazê-lo, põe à nossa disposição simbolicamente as ferramentas, e mostra-nos o caminho. Cabe a cada um de nós percorrer esse caminho, escutar o barulho do silêncio dentro de nós e caminhar.. O Ser um verdadeiro Irmão por vezes manifesta-se num profundo acto de isolamento, para nos reencontrarmos a nós próprios..
Não é possível dar fraternidade se não a tivermos dentro de nós, temos que a encontrar para a entender,compreender, sentir e desejar poder partilhá-la.
Tudo tem e leva o seu tempo, assim como o descobrir o espírito da verdadeira Irmandade.