terça-feira, 19 de maio de 2009

Quando a carroça faz muito barulho é sinal que vai vazia

Sobre a reportagem do jornal semanário “Expresso” de 9/05/09

Muitos se interrogam sobre a maçonaria e seus mistérios, particularmente quando se está fora desse mundo… Secretismo, ou descrição, têm sido os rótulos que mais se invocam ao longo dos tempos, ficando sempre a pairar em nebuloso horizonte de interrogações uma aura de estranheza que se presta às mais díspares, e infundadas, interpretações…

Os mistérios da maçonaria, rituais, simbologia, são em boa parte uma forma de protecção, pois nem sempre os ideias maçónicos de liberdade, anti-dogmatismo, foram bem acolhidos ao longo dos tempos. Quando as antigas corporações de pedreiros/artesãos/construtores medievais, com suas estritas/restritas regras/regulamentos que protegiam os segredos do ofício, a coberto dos olhares indiscretos de “profanos”, se deixaram impregnar de uma elite pensante que procurava recolhimento de poderes totalitários, incluindo a inquisição, transmutaram-se de corporações operativas/práticas em estruturas especulativas dando origem, no iluminismo do séc. XXVIII à maçonaria…

Os pedreiros (maçons) não são mais agora os trabalhadores/cortadores das pedras para a construção dos templos mas sim livres pensadores, filósofos, que procuram alicerces para o levantamento do templo do conhecimento, portadores da luz/razão que edifica o homem com base nos universais princípios da igualdade, fraternidade e liberdade. Procurando superar as paixões mundanas, visando a purificação dos vícios na busca da virtude, procurando o recolhimento exigido pela profundidade da reflexão, a maçonaria teve desde as suas origens, então, um sentido de superior descrição próprio de quem busca valores mais elevados, acima da turba…

Os tempos não alteraram este sentido das coisas, apenas acentuam, na conturbada vivência da actualidade, a estranheza que a maçonaria parece causar ao preferir o discreto silêncio contra a ebulição exacerbada do ruído das massas. Por isso mesmo faz ainda mais sentido, na protecção de uma certa tradição, que a maçonaria não se desvele/revele como show de “Big Brother”, mostrando que na inconstância dos tempos a modernidade passa pelo respeito e/ou assunção do passado.

Resulta sempre algo bizarramente estranho quando auto-intitulados maçons se dispõem a desvendar “segredos”/mistérios, que nada têm como tal, da arte real (práticas maçónicas). Talvez não sejam verdadeiramente maçons… Ou talvez as suas “lojas” o sejam no sentido literal do termo, não lugares de estudo mas sim bazares de produtos esotéricos de personagens ridiculamente vestidas como talhantes, ou sopeiras, como mostram as fotos da última reportagem do Expresso… Aos incautos que se acautelem… Maçonaria é coisa séria… O hábito não faz o monge, mesmo que o traje seja pago a peso de ouro…

Numa época em que tudo se compre e se vende também há quem comercialize maçonaria fabricando maçons como quem fabrica “fast food”… Mas isto não é mais do que simples ruído de quem leva uma carroça cheia de coisa nenhuma… A maçonaria prima pelo substantivo silêncio, vive no recato de uma vida interior, em comunhão simples com quem se reconhece também como maçom, tendo como dever superior intervir no mundo como os melhores, de entre os melhores, para uma sociedade mais justa e perfeita.

Pobre trabalho jornalístico, inexacto, vendeu gato por lebre… Perderam os leitores…


segunda-feira, 4 de maio de 2009

A HISTÓRIA E A LENDA DE PRINCE HALL

ler original aqui

A maçonaria Prince Hall, ou seja a maçonaria dos negros dos EEUU

Deve-se destacar, na figura de Prince Hall, a parte real, mas menos romântica, resgatada pela moderna pesquisa historiográfica e a lenda, devida, na maioria das vezes, a Grimshaw e que vem sendo alimentada pelo povo maçónico afro-americano. A moderna historiografia estima que Prince Hall nasceu em 1735 em lugar desconhecido. Alguns especulam que teria nascido em Barbados nas Índias Ocidentais, outros que teria sido na África enquanto uma minoria chega a afirmar que o seu local de nascimento seria os Estados Unidos. Documentos analisados mostram que teria exercido várias profissões, tais como: trabalhador braçal, artesão de roupa de couro e fornecedor de alimentos. Outros documentos apresentam-no como líder e eleitor numa pequena comunidade negra em Boston.

A versão tradicional, muito aceita mas de pouca ajuda para a pesquisa científica, afirma que Prince Hall nasceu em Bridgetown, Barbados, nas Índias Ocidentais em 1748, filho de Thomas Hall, um inglês, mercador de couro que teria como esposa uma mulher negra livre, de descendência francesa. Teria vindo para a Nova Inglaterra durante a metade do século XVIII, estabelecendo-se em Boston, na colónia de Massachusetts, onde teria se tornado pastor da Igreja Metodista.

A versão tradicional ainda afirma que Prince Hall teria pertencido às fileiras do Exército Revolucionário e lutado na guerra de independência norte-americana. Um ponto controverso tem sido a versão de que Prince Hall tenha sido escravo ou não. Sherman afirma que “tive a fortuna de descobrir, na Biblioteca Athenaeum de Boston, uma cópia do documento de alforria, provando que Prince Hall tinha, originalmente, sido escravo na família de um negociante em roupa de couro de Boston chamado William Hall que o alforriou em 1770”.[3] Certos historiadores afro-americanos rejeitam alguns documentos que tentam demonstrar ter ele sido escravo da família Hall, como se, em sendo isto verdade, teria sido uma desonra para a figura de Prince Hall. Aqui, convém lembrar o dizer da carta de Mahatma Gandhi ao Ir.´. W.E.B. Dubois em 1929: “Não deixem os 12 milhões de negros [norte-americanos] se envergonharem pelo fato de serem descendentes de escravos. N

ão há desonra em ter sido escravo. Há desonra em ter sido proprietário de escravos”.[4] A maçonaria Prince Hall nunca negou iniciação a qualquer ex-escravo desde que preenchesse os requisitos mínimos exigidos pela Ordem. A Grande Loja Unida da Inglaterra, após a abolição da escravidão nas Índias Ocidentais pelo Parlamento Britânico em 1º de Setembro de 1847, mudou a expressão nascido livre para homem livre como requisito para ingresso nas suas lojas. A tradição afirma que Prince Hall teria sido iniciado em 6 de março de 1775. E aqui existe uma controvérsia entre a Loja nº 441 e a Loja Africana , sendo que ambas estariam na gênese da maçonaria Prince Hall, com as implicações do reconhecimento pela Grande Loja Unida da Inglaterra e o problema de haver duas Obediências em um mesmo território.

O historiador Jeremy Belknap afirma que “tendo uma vez mencionado esta pessoa (Prince Hall), tenho a informar que ele foi um grão-mestre de uma loja de maçons livres, composta na sua totalidade de pretos e conhecida pelo nome de ‘Loja Africana’. Isto teria acontecido em 1775, quando esta cidade foi tomada pelas tropas britânicas, possibilitando a montagem de uma loja e ainiciação de um bom número de negros. Após o estabelecimento da paz, enviou-se a Londres um pedido de reconhecimento, obtendo-se uma carta timbrada pelo duque de Cumberland e assinada pelo conde de Effingham”.[5]