quinta-feira, 26 de junho de 2008

Fidelidade e Maçonaria


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(Link original clicar aqui)


1. INTRODUÇÃO: O presente artigo tem por objectivo principal discorrer sobre o significado da palavra fidelidade, observando tanto a conotação que lhe é emprestada no mundo profano quanto no mundo maçónico.
Para sermos rigorosos em nosso objectivo, em primeiro lugar recorremos aos léxicos e, posteriormente enveredamos pelos caminhos da filosofia até chegarmos ao conceito maçónico de fidelidade.

Evidentemente, face à natureza do trabalho, como também à exiguidade temporal, a pesquisa não chegou à exaustão.
Consequentemente cumpre-nos destacar que ao longo deste artigo tangenciaremos, por um lado, o significado da fidelidade no nosso quotidiano e, por outro lado, através destas observações procuraremos mergulhar no âmbito da filosofia para alcançarmos o nosso objectivo maior - a fidelidade, enquanto valor maçónico e princípio determinante da busca da felicidade - sem perder de vista que qualquer conceito é plástico e moldável ao longo do tempo.

Ou seja, o conceito insere-se em um processo dinâmico de observação da realidade concreta que tem como pressuposto básico o facto de que a variável temporal transcende uma simples coordenada para ser entendida como interioridade com três componentes: sucessão, simultaneidade e permanência.

2. FIDELIDADE: da abordagem quotidiana ao valor maçónico

Sob o aspecto da língua vernácula, nada mais prudente do que consultar os léxicos, para entendermos a origem e o significado de um vocábulo.
Neste sentido, buscamos em Houaiss (2001, p.1337), o significado e a etimologia da palavra fidelidade e lá encontramos:
Fidelidade - s.f - característica, atributo do que é fiel, do que demonstra zelo, respeito quase venerável por alguém ou algo;

1.1 observância da fé jurada ou devida;
2 constância nos compromissos assumidos com outrem;
3 Constância de hábitos, de atitudes( fidelização de clientes).

De outra forma, sob a óptica da Filosofia, esta para nós, se constituindo no mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes, sem dúvida, podemos enveredar pelos caminhos da ética para o entendimento mais preciso do significado da fidelidade.
A ética ancora-se em dois conceitos fundamentais: o senso moral e a consciência moral.
O senso moral representa nossos sentimentos e nossas ações e, porque não dizer, a forma como nós humanos interagimos com os nossos semelhantes e construímos conhecimento e formatamos hábitos e costumes.

Este conceito - de senso moral - traz de forma subjacente a ideia de costumes tradicionais, aceites e legitimados por uma sociedade, a forma como seus membros devem se portar e quais suas obrigações para com esta sociedade.

A consciência moral, por seu turno, nos remete ao pensar e a tomada de decisão. Em outras palavras, a consciência moral pode ser muito bem representada pelo seguinte exemplo: ao termos que definir, de pronto, sobre o que fazer em determinada situação em que somos instados a tomar uma decisão, inicialmente, temos de justificar esta decisão para nós mesmos e posteriormente para os outros.
Evidentemente, quando falamos de justificativa de uma decisão, referimo-nos às razões de nossa decisão, como também ao fato implícito de termos de assumir as consequências dela decorrentes.
Portanto, na esteira destas considerações de ordem ética, a fidelidade assume a condição de valor moral e consequentemente, não mais pode ser observada sem um pressuposto básico - a relação entre seres humanos, como também, de forma mais abrangente, entre a natureza orgânica e inorgânica - de modo que haja uma condição de cumplicidade e envolvimento entre partes que interagem e/ou mantém certo vínculo.

A fidelidade, portanto, vista sob a óptica da filosofia representa uma inter-relação entre o homem, enquanto representante da sociedade e a natureza, tanto a natureza orgânica quanto a natureza inorgânica.

Caminhando ao encontro destas considerações podemos inferir que a fidelidade além de ser um valor moral é também um valor social e, representa na sua prática quotidiana, um processo de catarse que, faz o homem passar do estado egoístico - passional para o estado ético - político.
Por outro lado, se nos reportamos ao significado da fidelidade no âmbito da ordem maçónica, sem dúvida, podemos aquilatar que, este, transcende tanto ao conceito da língua vernácula quanto ao conceito da filosofia.

Somente para fixar ideias, observemos algumas passagens do processo histórico de iniciação de um profano:

  • Ao ser iniciado na ordem, o neófito, assume um compromisso voluntário e moral de praticar a fidelidade em sua essência, enquanto ser humano, isto é, no conjunto das suas relações sociais;
  • Esta fidelidade do neófito se ancora na sua liberdade de expressão e acção, sem, contudo perder a ideia de limite;
  • A forma como ele é recebido - o ritual de iniciação - o conduz de forma metafórica através do processo histórico de evolução do homem e sua interacção com a natureza. Ou seja, o ritual de passagem - a iniciação - representa de forma sublime o vínculo entre partes, de um lado o mundo profano - a natureza(água, fogo, ar, animais, plantas, astros, pedras, metais, terra, humanos) - e de outro lado o mundo maçónico - as singularidades da ordem maçónica, seus segredos, suas alegorias, sua simbologia e a sua prática ritualística.

Observando as colocações acima elencadas, e sobre elas fazendo uma reflexão, podemos compreender que no âmbito maçónico, o homem, enquanto ser gregário se predispõe de forma transcendente a viver o estado da arte da sociedade, ou seja, buscar a perfeição e o convívio pleno com seus semelhantes.

Esta convivência com seus semelhantes, todos diferentes, mas não desiguais, obriga o homem a pensar e construir o seu espaço na medida em que através destas trocas de informações constrói valores éticos e morais.

E, nesta dinâmica de interacções, nós maçons, observamos de forma muito transparente e, porque não dizer, sem nenhuma opacidade, a prática e a consolidação do objectivo mais profundo e sublime da maçonaria - fazer feliz a humanidade.

Esta felicidade traz consigo de forma latente a fidelidade, ou seja, um processo de construção de valores éticos e morais que dá sustentação ao compromisso voluntário que o neófito assume com a maçonaria. Igualmente, este processo possibilita a construção e consolidação de novos hábitos e costumes que nos fazem enxergar nossos semelhantes como diferentes e não como desiguais.

Ou de outra forma, a busca da perfeição e o convívio pleno e harmónico com nossos semelhantes tanto no âmbito maçónico quanto no mundo profano é o que admitimos como a verdadeira Fidelidade.
Em síntese, o que distingue a fidelidade, enquanto valor maçónico, da fidelidade praticada no mundo profano é, no nosso entendimento, a voluntariedade.

E, para enriquecer este trabalho, gostaríamos de deixar gravado o entendimento do ilústre filósofo francês Gilles Deleuze(1925 - 1995) que ao ser instado a discorrer sobre o que é a Filosofia, assim se expressou:
" Muita gente pensa que a filosofia é uma coisa muito abstracta e para especialista. Eu creio e vivo de tal forma a ideia de que a filosofia não é uma especialidade que tento colocar o problema de outra forma. Quando se crê que a filosofia é abstracta, a história da filosofia fica também abstracta.......Um filósofo não é alguém que contempla nem mesmo alguém que reflecte: é alguém que cria. Cria um género de coisas de facto especiais: cria conceitos. O conceito não está pronto, não passeia pelo céu, não o contemplamos. É preciso cria-lo, fabricá-lo".

Este entendimento da filosofia consubstancia a ideia da criação de conceitos e, evidentemente, da criação do conceito de fidelidade, particularmente na ordem maçónica.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ordem maçónica, enquanto uma sociedade iniciática, cria e legitima conceitos que lhes dão sustentação tanto para a sua prática operacional - as lojas simbólicas - quanto para a reflexão em seus templos voltados para a prática da filosofia - as lojas de perfeição.

De outra forma, observando este facto - a criação e legitimação de conceitos pela ordem maçónica - sob a óptica da dialéctica e, levando-se em consideração o aspecto temporal podemos inferir que a mudança e a permanência, enquanto categorias reflexivas - uma não pode ser pensada sem a outra - representam talvez um pressuposto óbvio da vitalidade e longevidade dos cânones da maçonaria.

Em outras palavras, não podemos ter uma visão correta de nenhum aspecto da realidade humana se não soubermos situá-lo dentro do processo geral de transformação a que ele pertence, também não podemos avaliar nenhuma mudança concreta se não a reconhecermos como mudança de um ser (quer dizer, de uma realidade articulada e provida de certa capacidade de durar).

Neste sentido, sem nenhuma ambiguidade e explicitando o que apreendemos ao longo da nossa prática maçónica, podemos afirmar que: ao pensar o todo - a busca da felicidade da sociedade - a maçonaria não nega as partes, ou seja, não abstrai estas - as partes do todo - como também ao tratar as partes com suas diferenças o faz no seio da sociedade.
Ou seja, trabalhar a pedra bruta é uma metáfora que representa o trabalho das partes ao passo que a prática da liberdade, da igualdade e da fraternidade representa o tratamento do todo.

E, para finalizar, podemos inferir que a argamassa responsável pela consolidação e estabilidade da alvenaria maçónica tem um componente singular - a fidelidade -, que nada mais é do que uma construção colectiva do conhecimento.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12ed. São Paulo: Editora Ática, 2001.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 1997.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.
KONDER, Leandro. O que é a dialética. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Número de maçons liberais duplicou na última década

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Sábado, 19 de Maio de 2007

O número de maçons está a crescer em Portugal?

Está a crescer muito sustentadamente. Pode dizer-se que nos últimos dez anos duplicou o número de membros do Grande Oriente Lusitano (GOL), a obediência liberal (admite membros ateus e agnósticos) que
está a crescer mais, que já era a maior e mais antiga, e continua a crescer, num ritmo que anda à volta de 5% ao ano.

Quantos membros tem o Grande Oriente Lusitano?

Entre mil e dois mil. Há maçons regulares que estão a regressar ao GOL. Tem sido um movimento contínuo e regular nos últimos anos, é verdade.

É por convite que se entra na Maçonaria?

Em regra geral, sim, mas não obrigatoriamente. Quem não tenha contactos e conhecimentos dentro do GOL pode na mesma apresentar a sua candidatura, que será alvo do mesmo nível de escrutínio de qualquer outra candidatura, mesmo que venha de membro do GOL.

De que consta esse escrutínio?

São os valores do candidato em relação aos motivos que o levam a pretender entrar na Maçonaria. É inquirido sobre o seu passado, tem de ser bem escrutinado, somos muito selectivos. Queremos crescer, mas em qualidade.

Há candidatos jovens?

Cada vez mais, nos últimos anos isso é visível.

Há explicação para esse facto?

Nos últimos dez anos aquela sedução para grandes ideologias, que tudo pretendiam explicar desde o origem do mundo até ao fim da história, tem vindo a desaparecer. Portanto, a Maçonaria vem preencher um certo vazio espiritual, um certo vazio de valores e de concepções do mundo que se foi criando na última década.

Que sectores da sociedade procura a Maçonaria?

Profissionais liberais e universitários. Mas não exclusivamente, nem queremos colocar barreiras de carácter social ou cultural.

A Maçonaria é uma sociedade elitista?

Sim, no bom sentido da palavra. Não no sentido de aristocracia orgulhosa e arrogante, mas no sentido de uma elite de carácter moral e cívico. Isso sem dúvida.

Faz algum sentido uma sociedade secreta, ou se se quiser discreta, em plena democracia?

Mesmo em democracia, particularmente aqui em Portugal, a condição de maçon pode originar perseguições, incompreensões e prejuízos da vida profissional.

Ainda hoje?

Ainda hoje, infelizmente. Vivemos décadas de ditadura, a própria Igreja Católica durante séculos acabou por criar na sociedade uma imagem da Maçonaria completamente deformada, como se fosse uma seita apostada na conquista do poder por meios ilícitos, de uma seita que pretendia simplesmente destruir as religiões, o que não é verdade. Fazemos questão em ter crentes de diferentes religiões, para além de ateus e agnósticos.

Maçons Portugueses Famosos

A) A. H. de Oliveira Marques; Abade Correia da Serra; Adelaide Cabete; Afonso Costa; Afonso Domingues; Alexandre Herculano; Almiro Gaspar Marques; António Arnault; António Augusto de Aguiar; António José de Almeida; António Marques Miguel; António Reis (professor); Aquilino Ribeiro...

B) Bernardino Luís Machado Guimarães; Bissaya Barreto...

C) Camilo Castelo Branco; Curado Ribeiro...

E) António Egas Moniz; Emídio Guerreiro; Eça de Queiroz...

F) Fernando Pessoa; Fernando Teixeira; Fernando Valle; Fontes Pereira de Melo...

G) Gago Coutinho; Gomes Freire de Andrade;

H) Humberto Delgado...

I) I. M.

J) José Ferreira Borges; José Relvas; José da Silva Carvalho; José M. A.; José da Costa Nunes; José da Silva Mendes Leal; João Barroso Soares...

L) Lima de Freitas; Luz de Almeida...

M) Manuel Fernandes Tomás; Manuel Maria Barbosa du Bocage; Manuel da Silva Passos; Miguel Bombarda; Mário Soares...

N) Norton de Matos...

P) Sidónio Pais; Pedro I do Brasil...

Q) Antero de Quental...

R) Rafael Bordalo Pinheiro; R. P....

S) Sebastião de Magalhães Lima...

T) Teixeira de Pascoaes; Teófilo Braga...

(Original ler aqui)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Fernando Pessoa Escreve Sobre a Maçonaria

A Maçonaria compõe-se de três elementos: o elemento iniciático, pelo qual é secreta; o elemento fraternal; e o elemento a que chamarei humano – isto é, o que resulta de ela ser composta por diversas espécies de homens, de diferentes graus de inteligência e cultura, e o que resulta de ela existir em muitos países, sujeita portanto a diversas circunstâncias de meio e de momento histórico, perante as quais, de país para país e de época para época reage, quanto à atitude social, diferentemente.

Nos primeiros dois elementos, onde reside essencialmente o espírito maçónico, a Ordem é a mesma sempre e em todo o mundo. No terceiro, a Maçonaria – como aliás qualquer instituição humana, secreta ou não – apresenta diferentes aspectos, conforme a mentalidade de Maçons individuais, e conforme circunstâncias de meio e momento histórico, de que ela não tem culpa.

Neste terceiro ponto de vista, toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só ideia – a "tolerância"; isto é, o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar como entender. Por isso a Maçonaria não tem uma doutrina. Tudo quanto se chama "doutrina maçónica" são opiniões individuais de Maçons, quer sobre a Ordem em si mesma, quer sobre as suas relações com o mundo profano. São divertidíssimas: vão desde o panteísmo naturalista de Oswald Wirth até ao misticismo cristão de Arthur Edward Waite, ambos tentando converter em doutrina o espírito da Ordem. As suas afirmações, porém, são simplesmente suas; a Maçonaria nada tem com elas. Ora o primeiro erro dos Antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçónico em geral pelas afirmações de Maçons particulares, escolhidas ordinariamente com grande má fé.

O segundo erro dos Antimaçons consiste em não querer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está materialmente dividida, como já expliquei. A sua ação social varia de país para país, de momento histórico para momento histórico, em função das circunstâncias do meio e da época, que afectam a Maçonaria como afectam toda a gente. A sua acção social varia, dentro do mesmo país, de Obediência para Obediência, onde houver mais que uma, em virtude de divergências doutrinárias – as que provocaram a formação dessas Obediências distintas, pois, a haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue daqui que nenhum acto político ocasional de nenhuma Obediência pode ser levado à conta da Maçonaria em geral, ou até dessa Obediência particular, pois pode provir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de momento, que a Maçonaria não criou.

Resulta de tudo isto que todas as campanhas antimaçónicas – baseadas nesta dupla confusão do particular com o geral e do ocasional com o permanente – estão absolutamente erradas, e que nada até hoje se provou em desabono da Maçonaria. Por esse critério – o de avaliar uma instituição pelos seus actos ocasionais porventura infelizes, ou um homem por seus lapsos ou erros ocasionais – que haveria neste mundo senão abominação? Quer o Sr. José Cabral que se avaliem os papas por Rodrigo Bórgia, assassino e incestuoso? Quer que se considere a Igreja de Roma perfeitamente definida em seu íntimo espírito pelas torturas dos Inquisidores (provenientes de um uso profano do tempo) ou pelos massacres dos albigenses e dos piemonteses? E contudo com muito mais razão se o poderia fazer, pois essas crueldades foram feitas com ordem ou com consentimento dos papas, obrigando assim, espiritualmente, a Igreja inteira.

Sejamos, ao menos, justos. Se debitamos à Maçonaria em geral todos aqueles casos particulares, ponhamos-lhe a crédito, em contrapartida, os benefícios que dela temos recebido em iguais condições. Beijem-lhe os jesuítas as mãos, por lhes ter sido dado acolhimento e liberdade na Prússia, no século dezoito – quando expulsos de toda a parte, os repudiava o próprio Papa – pelo Maçom Frederico II. Agradeçamos-lhe a vitória de Waterloo, pois que Wellington e Blucher eram ambos Maçons. Sejamos-lhe gratos por ter sido ela quem criou a base onde veio a assentar a futura vitória dos Aliados – a "Entente Cordiale", obra do Maçom Eduardo VII. Nem esqueçamos, finalmente, que devemos à Maçonaria a maior obra da literatura moderna – o "Fausto" do Maçom Goeth.

Acabei de vez. Deixe o Sr. José Cabral a Maçonaria aos Maçons e aos que, embora o não sejam, viram, ainda que noutro Templo, a mesma Luz. Deixe a Antimaçonaria àqueles Antimaçons que são os legítimos descendentes intelectuais do célebre pregador que descobriu que Herodes e Pilatos eram Vigilantes de uma Loja de Jerusalém.

(*) Fernando Pessoa - Este é um trecho do artigo que Fernando Pessoa publicou no Diário de Lisboa, no 4.388 de 4 de Fevereiro de 1935, contra o projecto de lei, do deputado José Cabral, proibindo o funcionamento das associações secretas, sejam quais forem os seus fins e organização.

(Origem do artigo, clicar aqui)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

António Reis Reeleito Grão-Mestre da Maçonaria

O ex-dirigente socialista António Reis foi ontem reeleito, por um mandato de três anos, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) - Maçonaria Portuguesa, com 70 por cento dos votos. António Reis bateu a candidatura para os órgãos da instituição do militar reformado Filipe Frade, que terá obtido perto de 30 por centos dos votos. O coronel Filipe Frade e o historiador António Reis, que participaram ambos em actividades de oposição à ditadura de Salazar, são oriundos de ritos diferentes maçónicos

Jornal da Madeira /2008-06-08

Eleições no GOL

O socialista Amónio Reis, actua! grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), e o tenente-coronel Filipe Frade disputam a liderança da mais influente corrente maçónica portuguesa. Previstas para este Sábado, 7, as eleições no GOL realizam-se em ambiente de polémica interna. A loja 25 de Abril, apoiante de Reis e cuja figura principal é o coronel Vasco Lourenço, fez até um abaixo-assinado a contestar violentamente a candidatura de Frade. (Ler restante arquivo aqui)

Conversas Maçónicas

A 6 de Março de 2005, seis dias an­tes de o novo Governo socialista tomar posse, Abel Pinheiro, o ho­mem das finanças do CDS-PP, pe­gou no telemóvel e ligou ao social-democrata Rui Gomes da Silva, o ''maçom adormecido" que acabara de deixar o cargo de ministro dos Assuntos Parlamentares. Em plena investigação do processo Portucale (um caso de alegado tráfico de influências para a aprovação de um projecto imobiliário do Gru­po Espírito Santo), a conversa passou pela maçonaria e pelo seu poder.

Abel Pinheiro e Gomes da Silva concordavam que os maçons estavam sob fogo cerrado de José Sócrates. O futuro primeiro-ministro era acusado de afrontar a irmandade do Grande Oriente Lu­sitano (GOL) ao não escolher nenhum maçom para o Governo. Abel Pinheiro e Rui Gomes da Silva defendiam que as nomeações para ministro teriam de respeitar uma espécie de quota maçónica e estavam indignados por Só­crates não seguir o jogo de bastidores, afas­tando a maçonaria (e também a Opus Dei) dos lugares de decisão política.

Também diziam que a ausência de apoio maçónico iria deixar vulnerável o futuro Governo. (ler restante artigo da revista Sábado)

Constituções de Anderson

A ordem maçónica, enquanto obediência, pressupõe uma conduta muito consciente dos deveres de actuação direccionada para o bem/virtude, o que para um homem livre e de bons costumes tal só pode constituir uma força de motivação para a sua progressão espiritual/pessoal.

Devem, por isso, conhecer-se as “Old Charges” e/ou os “Landmarks”, pedras basilares do conhecimento maçónico e de suas ancestrais tradições… As “antigas regras" são documentos (referentes à maçonaria operativa, mostrando já a existência de uma maçonaria organizada em que os pedreiros –fremasons- utilizavam uns pergaminhos onde as/nas “Old Charges” (regras antigas anteriores a 1717, à formação Grande da Loja de Inglaterra) faziam referência às Lojas
/Oficinas e aos Regulamentos, Deveres, Segredos e Usos da Fraternidade.

Por estes documentos observamos não só as regras como também um pouco da história da maçonaria) que vieram ao conhecimento público a partir do Séc. XIV. Estes regulamentos são os landmarks/base deles que prescrevem as normas da ordem, os deveres, a jurisprudência maçónica.

George Payne, primeiro Grão-Mestre, da Grande Loja, sonhava com uma Maçonaria Moderna cuja preocupação era dotar o novo organismo, de um corpo de leis que pudessem regulamentar sua vida.

Em 1720, compilou os Regulamentos Gerais, baseados nesses antigos documentos, dando à Ordem, a forma de um governo maçónico. Em seguida, encarregou o Rev. James Anderson para comparar as Ordenações Gerais promulgadas pela Grande Loja, com os antigos documentos e costumes primitivos da confraria, dando a sua expressão definitiva.

Em Dezembro de 1721, seu trabalho é examinado e revisto por uma comissão que, em Março de 1722, apresenta seu relatório conclusivo aos delegados das Oficinas para o encaminhamento, preparação e aprovação em assembleia, ocorrida em 17 de Janeiro de 1723.

Este documento, conhecido como “Constituições de Anderson”, representa a carta fundamental e a única base legal autêntica da Maçonaria. A partir da metade do século XIX, são diversas as classificações de landmarks, com maior ou menor número deles, devendo assinalar-se a obra de Albert Mackey que em 1858 assim os
classifica:

1. Os processos de reconhecimento.

2. A divisão da Maçonaria Simbólica em três graus.

3. A lenda do 3º. Grau.

4. O governo da Fraternidade por um Grão-Mestre eleito por todos os maçons.

5. A prerrogativa do Grão-Mestre de presidir a todas reuniões maçônicas no território de sua jurisdição.

6. A faculdade do Grão-Mestre de autorizar dispensa para conferir graus em tempos anormais.

7. A prerrogativa do Grão-Mestre de conceder licença para fundação, instalação e funcionamento das Lojas.

8. A prerrogativa do Grão-Mestre de criar maçons ( iniciar e exaltar) por sua deliberação.

9. A necessidade dos maçons de se distribuírem em Lojas.

10. O governo de cada Loja por um Venerável e dois Vigilantes.

11. A necessidade de que toda Loja trabalhe “a coberto”.

12. O direito de todo mestre maçom de ser representado nas assembléias gerais da Ordem e de dar instruções aos seus representantes.

13. O direito de todo o maçom recorrer em alçada perante a Grande Loja ou a Assembleia Geral contra as resoluções de sua Loja.

14. O direito de todo maçom de visitar e de ter assento nas Lojas regulares.

15. Nenhum visitante, desconhecido como um maçom, poderá entrar em Loja, sem primeiro passar por um exame, conforme os antigos costumes.

16. Que nenhuma Loja poderá interferir nas actividades de outra.

17. Que todo maçom está sujeito às leis penais e regulamentos maçônicos vigentes na jurisdição em que reside.

18. Que todo candidato à iniciação há de ser homem livre e de maior idade.

19. Que todo maçom há de crer na existência de Deus como Grande Arquitecto do Universo.

20. Que todo maçom há de crer na ressurreição e uma vida futura.

21. Que um livro da lei de Deus deve constituir parte indispensável do equipamento de uma Loja.

22. Que todos os homens são iguais perante Deus e que na Loja se encontram num mesmo nível.

23. Que a Maçonaria é uma Instituição de posse de segredos que devem ser preservados.

24. A fundação de uma ciência especulativa, baseada numa arte operativa.

25. Que os Landmarks da Maçonaria são inalteráveis.

Cosnstituições de Anderson

Lenda do terceiro grau


Loja Fénix, Oriente de Lisboa

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Eleições no GOL...

O lugar do próximo Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) ­ a obediência maçónica mais antiga de Portugal ­, poderá vir a ser ocupado por um maçon natural de Vila Franca da Beira, concelho de Oliveira do Hospital. Trata-se de Filipe Frade, um militar na reserva, que no próximo dia 7 de Junho vai disputar as eleições do GOL com o actual grão-mestre, António Reis, que se recandidata ao lugar.

Natural de Vila Franca, localidade onde habitualmente reside, Frade ­ um alto-grau da maçonaria ­ passou grande parte da sua vida na Bélgica e tem fortes ligações ao Grande Oriente Belga, onde foi iniciado.

A maçonaria está instalada em Portugal desde o século XVIII e em 1738 foi considerada pela igreja católica como uma³ heresia perversa². O General Gomes Freire de Andrade, que chegou a alcançar o título de 3º Conde da Bobadela, foi grão-mestre do GOL e, em 1817, foi enforcado sob a acusação de³ conjura liberal².

No período do Estado Novo, a maçonaria portuguesa foi sempre alvo de várias perseguições e é após o 25 de Abril que aquela obediência é reabilitada.

Em Oliveira do Hospital, existem hoje vários maçons e a maior parte deles reúne numa loja do GOL, localizada em Coja, concelho de Arganil. Entre os seus principais impulsionadores, encontrava-se o histórico socialista, entretanto falecido, Fernando Valle.

Na cidade, há ainda algumas marcas que os maçons deixaram na arquitectura local e até o próprio Salão Nobre da Câmara Municipal exibe ­ por cima da mesa de reuniões ­ um tríptico com simbologia maçónica, que foi mandado pintar no tempo do Estado Novo.

Gestão imobiliária divide Maçonaria



Grande Oriente Lusitano.
António Reis recandidata-se a chefe da maior obediência maçónica portuguesa. Enfrenta Filipe Frade, coronel reformado. No sábado saber-se-á o resultado. Divide-os a gestão do valioso património imobiliário da instituição, cujo valor ascende a milhões de euros

Eleições para grão-mestre do GOL começam amanhã

O Grande Oriente Lusitano (GOL) vai a votos. A partir de amanhã, os "irmãos" da maior obediência maçónica portuguesa começarão a colocar os seus votos nas urnas. Dia 7, sábado, os resultados serão anunciados.

Apresentaram-se dois candidatos: António Reis, actual grão-mestre, que tenta um segundo mandato de três anos (foi eleito para o primeiro em Junho de 2005) e Filipe Frade, coronel na reforma, homem que, como Reis, esteve também ligado ao combate à ditadura no Estado Novo (nomeadamente na LUAR, um grupo que tentou a via armada).

Membros do GOL ontem ouvidos pelo DN adiantaram que a principal divisão entre Reis e Frade reside na solução para a gestão do valiosíssimo património imobiliário da instituição. Estão em causa, nomeadamente, edifícios situados no centro de Lisboa, e cujo valor ascende a milhões de euros.

O GOL tem como braço legal o Grémio Lusitano, instituição com número de contribuinte e personalidade jurídica formalizada.

António Reis pretende, na órbita do Grémio, criar uma Fundação Grémio Lusitano. Ela irá, segundo o programa apresentado pelo recandidato a grão-mestre - e a que o DN teve acesso - "contribuir decisivamente para a salvaguarda e valorização de todo o património" da obediência. Isto através de "meios de gestão em moldes adequados aos tempos actuais, capazes de rentabilizar todo o património" do GOL.

"Este impulso [para a criação da Fundação Grémio Lusitano] foi sem dúvida decisivo para deixarmos de ser um conjunto de lobbies com interesses distintos e nos tornarmos uma verdadeira Obediência, dotada dos meios próprios para a prossecução dos fins próprios da Maçonaria", lê-se ainda no programa de António Reis.

Segundo o DN apurou, Filipe Frade contesta esta solução para a gestão do património imobiliário do Grande Oriente Lusitano. Aparentemente, receia que ao concentrar-se a gestão de "todo o património" numa instituição formalmente externa ao GOL, este acabe por perder o seu controlo.

No seu programa de candidatura, a que o DN teve acesso - e que está escrito numa linguagem quase ininteligível para qualquer "profano" (não-maçon) - diz que está "instalada" a "confusão entre construção maçónica e construção civil". E esta "confusão" - acrescenta - "não é apenas um retrocesso, antes revela o método que tem passado do exterior - a visualidade das obras públicas - para o interior, em tais circunstâncias de forma infamante e lesivo da Honra e Dignidade Maçónicas."

Ou seja: Filipe Frade opõe-se à concentração num só organismo maçónico da gestão de "todo o património" da obediência, como defende Reis. E se o seu projecto se concretizar, isso significa que se está na "iminência de actos que vão contra a integridade das Lojas".

terça-feira, 3 de junho de 2008

Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano quer Maçonaria nas Comemorações do Centenário da República


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António Reis quer que o Grande Oriente Lusitano (GOL) tenha uma palavra a dizer sobre as comemorações do centenário da República. Por isso, no programa para o próximo triénio com que se recandidata a grão-mestre da principal obediência maçónica portuguesa, propõe que seja constituída uma associação nacional que seja interlocutora, em nome do Grande Oriente Lusitano, com a Comissão Nacional nomeada pelo Governo e presidida por Augusto Santos Silva.

O actual grão-mestre, António Reis, que disputará no próximo dia 7 de Junho a sua reeleição frente à candidatura de Filipe Frade, um militar na reserva - ambos se recusaram a falar com o PÚBLICO sobre esta eleição e as propostas que defendem -, sustenta, no documento programático que apresenta como programa de acção, que essa associação deve ser integrada pelo Grémio Lusitano e pelos Centros Republicanos, em representação do GOL, bem como por outras associações da sociedade civil.

Apelando a uma maior mobilização maçónica para as cerimónias anuais do 5 de Outubro, António Reis diz que "importa preparar agora um conjunto de iniciativas que assinalem devidamente a participação decisiva do Grande Oriente Lusitano Unido [GOLU] na Revolução Republicana, bem como a actualidade dos valores republicanos, cuja matriz maçónica é inquestionável".

Assim, se for reeleito, António Reis propõe que nos Encontros Internacionais de Lisboa, organizados pelo GOL, se realize um "grande colóquio sobre as relações entre a maçonaria e a República, não apenas em Portugal". E promete também editar obras sobre o papel do GOLU na revolução.
Ainda no próximo triénio, no que se refere a actividades para o exterior, o grão-mestre cessante promete, se for eleito, organizar "um grande colóquio sobre o tema das desigualdades na sociedade portuguesa". E sublinha que este é "um tema a abordar sob as mais diversas perspectivas: desde a reflexão ética até às suas multímodas manifestações nos planos social, económico, cultural e do género". Para concluir: "Será uma forma de reafirmarmos o nosso empenho num dos princípios que nos é mais caro: o da Igualdade."

Propondo-se prosseguir a "dinamização das Lojas do GOL", António Reis salienta a importância de aumentar o número destas secções internas e de criá-las nos novos centros urbanos que se desenvolveram nas últimas décadas em Portugal. E alerta para que "este novo ambiente gerou e desenvolveu novos grupos sociais, de espírito urbano e liberal, que são a base ideal para o recrutamento maçónico".

Reis promete ainda prosseguir a informatização do GOL, a organização da biblioteca e do arquivo e o investimento no museu, para o qual pretende continuar a adquirir peças, através de compra ou doação. E defende a criação de um fundo de solidariedade para que o GOL possa socorrer financeiramente não só associados que estejam em dificuldades, como grupos sociais e pessoas atingidas por catástrofes
naturais.