domingo, 25 de novembro de 2007

O Clero Português na Maçonaria

No início da década de 1790, no rescaldo da queda do marquês de Pombal, ministro iluminista de D. José I, a Inquisição teve um assomo de autoridade, desencadeando uma grande perseguição aos pedreiros-livres. Tentava demonstrar que ainda tinha vigor e que aquele ministro, com o novo regimento de 1774, não a conseguira esvaziar de poderes; reagia também contra os ventos que vinham de França. Para ler restante clicar aqui

"Maçonaria no Governo"-Artigo do Jornal "Sol"

Novo ministro é maçon e tem defendido sujeição da Justiça ao poder político. A entrada de Rui Pereira para a Administração Interna, em substituição de António Costa, reforça a posição da Maçonaria no Governo. Rui Pereira é maçon assumido, líder da Loja Nunes de Almeida, que resultou de uma cisão recente na Loja Convergência. E foi um dos juristas que mais criticaram a posição da Justiça no caso Casa Pia, defendendo a fiscalização do poder judicial pelo poder político. ‘Chumbado' no Tribunal Constitucional, o novo ministro reforça agora o seu peso político... Ler resto do artigo aqui

Maçonaria Portuguesa

A história da Maçonaria enquanto Fraternidade Iniciática e Simbólica está ligada à expansão das ideias matrizes do Iluminismo, da procura da Razão e do aperfeiçoamento humano e da sociedade, que adquirem relevância na Europa do Século XVIII, em reacção às ideias que preponderaram, em séculos anteriores, da unidade natural dos dois poderes, o espiritual, próprio da Igreja e o temporal, encarnado na pessoa do suserano e da natural subordinação de todos os homens, enquanto povo cristão, ao domínio dual formado por aqueles dois, por divina predestinação.

Ideias que se difundiram através das letras e da vulgarização da experiência da leitura mas também da criação em toda a Europa de novas instituições e organizações onde poderiam ser aprofundadas e discutidas novas ideias. Algumas dessas instituições como as lojas maçónicas, as academias e as sociedades eruditas representavam interesses formais, sendo a admissão cuidadosamente controlada[2]. Outras tais como as conferências públicas, cafés, bibliotecas por empréstimo, exposições de arte, representações operárias e teatrais eram operações mais ou menos comerciais, a que tinham acesso quem pudesse pagar, possibilitando assim o acesso de todos os extractos sociais às mesmas ideias. Ler resto do artigo aqui

sábado, 24 de novembro de 2007

RITUAL MAÇÓNICO PORTUGUÊS NO SÉC. XIX

De 1820 a 1869 praticaram-se na Maçonaria portuguesa seis ritos diferentes: o Rito Francês, o Rito Simbólico Regular, o Rito Escocês Antigo e Aceite, o Rito de Heredom, o Rito Eclético Lusitano e o Rito de Adopção:. Diga-se desde já que o primeiro e o terceiro predominaram, a grande distância, sobre os quatro outros:.

A constituição maçónica de 1806 adoptara o Rito Francês como oficial e único no seio do Grande Oriente Lusitano:. Enquanto nesta obediência se esgotaram os trabalhos maçónicos portugueses, o Rito Francês manteve a sua exclusividade:. E mesmo depois, quando já os maçons portugueses se achavam divididos em facções numerosas, o Rito Francês continuou a prevalecer:.

O Rito Simbólico Regular parece ter sido utilizado na loja de exilados instalada em Inglaterra durante o reinado de D. Miguel:. Depois, esteve morto ou moribundo durante quase todo o período em estudo:. Há notícias de uma única oficina a praticá-lo, a loja 24 de Agosto, criada antes de 1843 na obediência da Maçonaria do Norte e, em seguida, da sua sucessora Confederação Maçónica:. Esta loja já não existia em 1867:.

O Rito Escocês Antigo e Aceite foi introduzido em Portugal em 1837, ao nível dos três primeiros graus:. Deveu-se à Grande Loja de Dublin (Irlanda), que instalou em Lisboa, nesse ano, a loja Regeneração I:. No conjunto dos 33 graus, o Rito Escocês surgiu três anos mais tarde, sob a chefia de Silva Carvalho e da loja Fortaleza, que constituíram o chamado Grande Oriente do Rito Escocês, conseguindo, em 1841, autorização para erigir um Supremo Conselho:. Neste mesmo anos de 1841, o Grande Oriente Lusitano introduziu o Rito em algumas das suas lojas, criando, pouco depois, um segundo Supremo Conselho:. O Rito Escocês Antigo e Aceite penetrou ainda no Grande Oriente de Portugal (1849), na Confederação Maçónica Portuguesa (após 1849), no segundo Grande Oriente Lusitano (1859) e, evidentemente, no Grande Oriente Português (1867):. Apesar da manutenção e consolidação do Rito Francês foi, sem sombra de dúvida, o Rito com maior dinamismo e força expansiva nos meados do século XIX, registando aumentos contínuos e consistentes no número de lojas que agrupava:.

O Rito de Heredom ou Rito de Perfeição foi o antepassado do Rito Escocês Antigo e Aceite e não passa de uma variante sua:. Pelo menos na década de 1840 confundia-se com o Rito Escocês, coexistindo, em diplomas, as duas terminologias:. Tem 25 graus, com os mesmos títulos e características dos primeiros 25 graus do Rito Escocês, à excepção dos nº 20, 21, 23 e 24, onde se registavam variações:. Que se saiba, seguiu este Rito em Portugal uma única oficina, a loja Fonseca Magalhães, fundada em Lisboa talvez em 1858 ou 1859, na dependência directa do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antogo e Aceite, presidido por Domingos Correia e Arouca:.

O Rito Eclético Lusitano deveu-se a Miguel António Dias e parece ter sido, até hoje, a única tentativa de constituir um rito próprio e exclusivo dos maçons portugueses:. Aquele autor esforçara-se, desde 1838, por reformar toda a Maçonaria portuguesa, adoptando como rito as práticas básicas dos Rito Francês, embora revisto e adaptado a Portugal:. Neste sentido redigiu umas "Bases Gerais" em seis capítulos e 34 artigos, que publicou na sua Architectura Mystica do Rito Francez ou Moderno (1943) e depois, novamente (1853), nos Annaes e Codigo dos Pedreiros Livres em Portugal, agora com lei orgânica e regulamento apensos:. Neste mesmo ano, Miguel António Dias conseguiu controlar uma série de oficinas, levando-as a aceitar o novo rito e a sua presidência de um governo provisório coordenador:. Para elas instalou-se formalmente o Grande Oriente da Maçonaria Eclética Lusitana, com cinco lojas, sendo três em Lisboa (Regeneração 20 de Abril, Firmeza, e Fraternidade), uma em Setúbal (Firmeza) e uma em Torres Novas (Torre Queimada):. A nova obediência conseguiu ainda elaborar a sua Constituição (28 de Setembro de 1860), mas não parece ter durado muito para além dessa data:. Algumas das oficinas abateram colunas e outras integraram-se no Grande Oriente de Portugal e na Confederação Maçónica Portuguesa, não sabemos se mantendo o Rito Eclético Lusitano, se voltando ao Rito Francês:.

O Rito de Adopção, destinado exclusivamente a mulheres, surgiu e manteve-se como ponte entre uma maçonaria estritamente masculina e arrogando-se de ortodoxa, e uma maçonaria aberta a ambos os sexos:. Assim, cada loja deste rito era fundada e patrocinada ("adoptada") por uma loja regular masculina, que nela superintendia e a controlava:. Para não se criar, nas lojas femininas, a ilusão de igualdade com as masculinas, através de práticas que fossem idênticas em ambas, forjou-se um rito diferente - embora com alguns elementos comuns -, o chamado Rito de Adopção:. Este Rito, na variante com cinco graus, foi introduzido em Portugal em 1864, com a loja feminina Direito e Razão, aparentemente subordinada à Confederação Maçónica Portuguesa:. Mas achava-se definido e teorizado, com rituais em português, desde havia muito:.

Conclusões:

A existência e a adopção teóricas dos ritos não significavam necessariamente a sua aplicação prática:. Para começar, muitas lojas, "não tendo rigorosamente seguido rito algum especial, têm confundido muitos ritos diferentes" o que se devia, quer à falta ou à escassa divulgação de manuais, quer à semelhança existente entre os vários ritos, mormente nos três primeiros graus, quer ainda ao desinteresse, ao nível de Obediência ou de oficina, pelo próprio ritual:.

Em 1822, por exemplo, saiu a público um manual do Rito Adoniramita, que chegou a ser anunciado no Diario do Governo:. Era, provavelmente, o Cathecismo de Aprendiz do Rito Adonhiramita, s.l., s.d., cujas divergências do Rito Francês seriam mínimas e que pode ter sido utilizado nas lojas:. A preferência pelo Rito Francês imposta pela Constituição maçónica, levou acaso ao abandono da iniciativa tradutora:.

As influências francesa e brasileira na prática e teoria ritualistas parecem também claras, exercendo-se sobre a esmagadora maioria das lojas de quase todas as Obediências:. Originalidade portuguesa praticamente não existiu, a não ser no caso esporádico da doutrinação de Miguel António Dias:.

Por fim, releve-se a extensão e prolixidade de todos os rituais, cuja prática escrupulosa levaria a sessões de várias horas, equivalentes a espectáculos lúdicos de qualquer género:. A participação em loja obedecia também à necessidade de ocupar o tempo, numa sociedade onde as distracções não abundavam e o convívio pessoal se impunha:.

* De A.H. de Oliveira Marques, "Para a História do Ritual Maçónico em Portugal no Século XIX (1820-1869)", separata da Revista de História das Ideias, Vol. 15, Faculdade de Letras, Coimbra, 1993:.

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terça-feira, 20 de novembro de 2007

Mitologia e Maçonaria-Isís

MITOLOGIA EGÍPCIA: ISÍS

ISÍS

Nenhuma personalidade do panteão egípcio pode rivalizar com a deusa Ísis, sublime essência da alma de uma das mais excelsas e proeminentes civilizações da antiguidade e maga detentora do esplendor ofuscante que a conduziu até ao auge da popularidade. Surgindo na teologia heliopolitana como fruto dos amores entre o céu (Nut) e a terra (Geb), Ísis reinara com uma sabedoria incontestável nas Duas Terras, o Alto e o baixo Egipto, muito antes do nascimento das dinastias. O amor que unia Ísis a Osíris em ternos esponsais vestia a sua alma com uma felicidade que abraçava o Infinito. Todavia, em breve a doce melodia que tão mítica perfeição dedilhava na harpa da sua vida seria, pelas trevas, resumida a um rol de acordes dissonantes, orquestrados numa sinfonia de silêncio e dor.

Tão vil prelúdio de uma noite sem fim surgiu sob a forma de um convite de Seth, que solicitava afavelmente a presença de seu irmão Osíris num banquete. Sem jamais cogitar que se tratava de uma ímpia conjuração, Osíris não declinou a oferta, colocando-se então à mercê de um execrável assassino. Algures no decorrer do banquete, Seth apresentou um caixão de proporções verdadeiramente excepcionais, assegurando que recompensaria generosamente aquele que nele coubesse. Imprudente, Osíris aceitou prontamente o desafio, permitindo que Seth e os seus acólitos pregassem a tampa e consequentemente o tornassem escravo da morte. Cometido o hediondo crime, o assassino Seth, que cobiçava ocupar o trono de seu irmão, lança a urna ao Nilo, para que o rio a conduzisse até ao mar, onde veio a perder-se. Este trágico incidente deu-se no décimo sétimo dia do mês Athyr, quando o Sol se encontra sob o signo de Escorpião. Quando Ísis tomou conhecimento do ocorrido, baniu de sua alma todo o desespero que a assombrava e abraçou a resolução de procurar o seu marido, a fim de lhe restituir o sopro da vida. Assim, cortou uma madeixa do seu cabelo, estigma da sua desolação, colocou o seu vestuário matutino e errou por todo o Egipto, na ânsia de ver a sua diligência coroada de êxito.

Por seu turno, e após haver dançado nas ondas do mar, a urna atingiu finalmente uma praia, perto da Babilónia, na costa do Líbano, enlaçando-se nas raízes de um jovem tamarindo, cujo prolixo crescimento a prendeu no interior do seu tronco. Ao alcançar o clímax da sua beleza, a imponente árvore atraiu a atenção do rei desse país, persuadindo-o a ordenar ao seu séquito que o tamarindo fosse derrubado, com o fito de ser utilizado como pilar na sua casa. Em simultâneo com o crescimento da referida árvore, Ísis prosseguia tão exaustivas busca pelo cadáver de seu marido, pelo que, ao escutar as histórias tecidas em torno da surpreendente árvore, tomou de imediato a resolução de ir à Babilónia, na esperança de ultimar enfim e com sucesso a sua odisseia. Ao chegar ao seu destino, Ísis sentou-se perto de um poço, ostentando um disfarce humilde e brindou os transeuntes que por ela passavam com um rosto lavado em lágrimas. Os relatos da sua inusitada condição rapidamente chegaram aos reis da Babilónia, que, intrigados, propuseram-se a conhecer o motivo de tanto desespero. Quando Ísis os viu estancar defronte de si, presenteou-os com saudações cordiais, reverentes e, solicitou-lhes que permitissem que os seus cabelos ela entrançasse. Uma vez que os regentes, embora servos da perplexidade, não impuseram qualquer veto ao seu convite, Ísis uniu o gesto à palavra, incensado as tranças que talhava pouco a pouco com o divino perfume exalado por seu ástreo corpo. Ultimado tão peculiar ritual, a rainha da Babilónia apressou-se a contemplar o resultado final, sendo enfeitiçada pelo irresistível aroma que seus cabelos emanavam. Literalmente inebriada por tão doce perfume dos céus, a rainha ordenou então a Ísis que a acompanhasse até ao palácio.

Assim, a deusa franqueou a entrada do palácio do rei da Babilónia, junto do qual conquistou o privilégio de tornar-se na ama do filho recém-nascido do casal régio, a quem amamentava com o seu dedo. Devido aos laços que a vinculavam à criança, Ísis desejou conceder-lhe a imortalidade, pelo que, todas as noites, a queimou, num fogo divino e, como tal, indolor, para que as suas partes mortais ardessem no esquecimento. Certa noite, durante este processo, ela tomou a forma de uma andorinha, a fim de cantar as suas lamentações. Maravilhada, a rainha seguiu a melopeia que escutava, entrando no quarto do filho, onde se deparou com um ritual aparentemente hediondo. De forma a tranquilizá-la, Ísis revelou-lhe a sua verdadeira identidade, e ultimou precocemente o ritual, mesmo sabendo que dessa forma estaria a privar o pequeno príncipe da imortalidade que tanto desejava oferecer-lhe. Observando que a rainha a contemplava, siderada, Ísis aventurou-se a confidenciar-lhe o lancinante incidente que a coagira a visitar a Babilónia, conquistando assim a confiança e benevolência da rainha, que prontamente aquiesceu em ceder-lhe a urna que continha os restos mortais de seu marido. Dominada por uma intensa felicidade, Ísis apressou-se a retirá-la do interior do pilar. Porém, fê-lo com tão negligente brusquidão, que os seus escombros de pedra espalharam-se por toda a divisão, atingindo, mortalmente, o pequeno príncipe. Na realidade, existem inúmeras versões deste fragmento da lenda, uma das quais afirma que a rainha expulsou Ísis, ao vislumbrar o aterrador ritual, pelo que esta retirou a urna, sem o consentimento dos seus donos. Porém, a veracidade desta versão semelha-se deveras suspicaz...

Com a urna em seu poder, Ísis regressou ao Egipto, onde a abriu, ocultando-a, seguidamente, nas margens do Delta. Numa noite, quando Ísis a deixou sem vigilância, Seth descobriu-a e apoderou-se, uma vez mais dela, com o intento de retirar do seu interior o corpo do irmão e cortá-lo em 14 pedaços, que foram, em seguida, arremessados ao Nilo. Ao tomar conhecimento do ocorrido, Ísis reuniu-se com a sua irmã Néftis, que não também tolerava a conduta de Seth, embora este fosse seu marido, e, juntas, recuperaram todos os fragmentos do cadáver de Osíris, à excepção, segundo refere Plutarco, escritor grego, do seu sexo, que fora comido por um peixe. Novamente deparamo-nos com alguma controvérsia, uma vez que outras fontes egípcias afirmam que todo o corpo foi recuperado. Acto contínuo, Ísis organizou uma vigília fúnebre, na qual suspirou ao cadáver reconstituído do marido: “Eu sou a tua irmã bem amada. Não te afastes de mim, clamo por ti! Não ouves a minha voz? Venho ao teu encontro e, de ti, nada me separará!” Durante horas, Ísis e Néftis, de corpo purificado, inteiramente depiladas, com perucas perfumadas e boca purificada por natrão (carbonato de soda), pronunciaram encantamentos numa câmara funerária ignota, que o incenso queimado impregnava de espiritualidade. A deusa invocou então todos os templos e todas as cidades do país, para que estes se juntassem à sua dor e fizessem a alma de Osíris retornar do Além.

Uma vez que todos os seus esforços revelavam-se vãos, Ísis assumiu então a forma de um falcão, cujo esvoaçar restituiu o sopro de vida ao defunto, oferecendo-lhe o apanágio da ressurreição. Seguidamente, Ísis poisou no sítio do desaparecido sexo de Osíris, fazendo-o reaparecer por magia, e manteve-o vivo o tempo suficiente para que este a engravidasse. Em contraste, outras fontes garantem que Osíris e a sua esposa conceberam o seu filho, antes do deus ser assassinado pelo seu irmão, embora a versão mais comum seja a relatada, primeiramente. Assim, ao retornar à terra, Ísis encontrava-se agora grávida do filho, a quem protegeria até que este achasse-se capaz de enfrentar o seu tio, apoderando-se (como legítimo herdeiro) do trono que Seth havia usurpado. Alguns declaram que Ísis, algum tempo antes do parto, fora aprisionada por Seth, mas que Toth, vízir de Osíris, a auxiliara a libertar-se. Porém, muitos concordam que ela ocultou-se, secretamente, entre os papiros do Delta, onde se preparou para o nascimento do filho, o deus- falcão Hórus. Quando este nasceu, Ísis tomou a decisão de dedicar-se inteiramente à árdua incumbência de velar por ele. Todavia, a necessidade de ir procurar alimentos, coagiam-na pontualmente a ausentar-se, deixando assim o pequeno deus sem qualquer protecção. Numa dessas ocasiões, Seth transformou-se numa serpente, visando espalhar o seu veneno pelo corpo de Hórus, pelo que quando Ísis regressou da sua diligência, encontrou o seu filho já próximo das morte.

Todavia, a sua vida não foi ceifada, devido a um poderoso feitiço executado pelo deus- sol, Ra.
Dada a sua devotada protecção, Ísis era constantemente representada na arte egípcia a amamentar tanto o seu filho, como os faraós. Sendo um dos mais populares vultos da mitologia egípcia, cujo nome é representado por um trono (e crê-se que terá mesmo esse significado), Ísis assume o lugar de deusa da família e do casamento, a quem foram concedidos extraordinários poderes curativos, empregues, essencialmente, para salvar crianças de mordeduras de cobras. Devido às suas qualidades maternais, surge, por vezes, com a forma de uma porca ou de uma vaca, o que leva a que seja confundida com Háthor (deusa do amor), com quem, na realidade, se fundiu, na Época Baixa (664-332 a.C./ XXVI- XXX Dinastias), período de tempo em que o seu culto atingiu o auge. Deste modo, o seu culto proliferou-se por toda a bacia mediterrânea, na qualidade de Ísis- Afrodite, o que demonstra bem a forma como os romanos lhe prestavam culto, esculpindo imagens em sua homenagem, nas quais ela surgia, muitas vezes, com uma túnica que flutua ao vento e com um toucado composto por espigas, chifres de vaca, um disco solar e penas de avestruz.

Em torno do seu temperamento bravio (tão díspar da sua maternidade e benevolência!), teceu-se igualmente outra lenta, que narra a forma como Ísis, intrigada com o segredo que sustinha os poderes de Ra, conjura para obter o nome secreto do Senhor Universal, matriz das suas forças e esplendor. Assim, recolhe um pouco da sua saliva, amassa-a com terra e, com essa argila, molda uma serpente em forma de flecha, que coloca na encruzilhada dos caminhos desbravados pelo cortejo solar. Escrava da magia de Ísis, a serpente não hesita em morder Ra à sua passagem, que, com um silvo de dor, desfalece. Quando recupera a consciência, o deus- sol evoca, desesperado, todos os deuses, relatando-lhes o seu infortúnio: “ O meu pai e a minha mãe ensinaram-me o meu nome e eu dissimulei-o no meu corpo, para que mago algum o possa pronunciar como malefício para mim. Tinha eu saído para contemplar a minha criação, quando algo que desconheço me mordeu. Não foi nem fogo, nem água; mas o meu coração está em chamas, o meu corpo treme e os meus membros estão frios. Tragam-me os meus filhos, os que conhecem as fórmulas mágicas e cuja ciência chega aos céus!”. Ísis debruça-se sobre Rá e, simulando uma estupefacção imensurável, questiona: “ Que se passa? Ter-se-ia um dos teus filhos erguido contra ti? Então, destruí-lo-ei graças ao meu poder mágico e farei com que seja expulso da tua vista!” Quando o deus- sol lhe confidenciou a matriz do seu padecimento, Ísis assegurou-lhe que somente lhe entregaria o vital antídoto, caso este lhe revelasse a origem das suas imensuráveis forças.

Exasperada por Rá se negar a atender á sua reivindicação, Ísis solicitou, novamente: “Diz-me o teu nome, meu divino Pai! Porque o homem só revive quando é chamado pelo seu nome!”
Escravizado pelo desespero, a personificação da luz oferece a Ísis um rol interminável de nomes falsos, na ânsia de que a deusa não alcançasse a percepção de que ele procurava ludibriá-la. Todavia, Ísis replicou: “ O teu nome não está entre aqueles que citaste! Diz-mo e o veneno abandonará o teu corpo, porque o homem revive quando o seu nome é pronunciado.”
Subjugado pela dor, Rá aceita o ultimato, mesmo sabendo que tal concederia a Ísis autoridade sobre a sua pessoa. Num suspiro, declara então: “Olha, minha filha Ísis, de modo que o meu nome passe do meu corpo para o teu... Mal ele saia do meu coração, repete-o ao teu filho Hórus, submetendo-o a um juramento divino!”

Na realidade, todas as deusas egípcias possuíam esta dualidade, que as colocava entre a crueldade extrema e a indulgência infinita, num jogo de luzes e sombras que não as impediram de ser adoradas através dos tempos. A sua imagem é omnipresente e tanto cobre os sumptuosos santuários do Vale do Nilo, como os mais íntimos testemunhos de devoção pessoal. Porém, ao percorrermos o Egipto, deparamo-nos com três locais particularmente abençoados com a magia de Ísis:

Behbeit el- Hagar, no Delta, onde um sumptuoso templo foi erigido em honra de Ísis. Malogradamente, o halo de magia e espiritualidade que nimba esta excelsa deidade revelou-se impotente para deter aqueles que, não votando qualquer respeito pela sua índole sagrada, cometeram a ignomínia de destruir tão colossal santuário, onde os céus se reflectiam e renovavam num jogo divino, a fim de o transformar numa pedreira. Consequentemente, Behbeit el- Hagar é na actualidade um local quase literalmente desconhecido dos turistas e que semeia uma franca desilusão nos corações dos intrépidos que ainda o ousam visitar, pois a grandeza daquele que fora outrora um templo dedicado a uma divindade verdadeiramente excepcional resume-se agora a um monte de escombros e blocos de calcário ornados de cenas rituais.
Dendera, no alto Egipto, eterno berço de feitiços onde Ísis desabrochou para a vida, onde nos deparamos com um santuário de Háthor parcialmente conservado, com um templo coberto e com o mammisi, ou seja, “templo do nascimento de Hórus), assim como com um exíguo santuário, onde a etérea Ísis nasceu, deslumbrando o mundo com sua pele rosada e revolta cabeleira negra.
Filae, ilha- templo de Ísis, que serviu de refúgio à derradeira comunidade iniciática egípcia, mais tarde (séc. VI d. C., mais precisamente) exterminada por cristãos escravos do fanatismo.

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domingo, 18 de novembro de 2007

O Simbolismo dos Números

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"O único mistério do universo
é o mais e não o menos ".
Fernando Pessoa



Alguns conhecimentos místicos básicos sobre o simbolismo dos números.

Iniciaremos pelos três primeiros números conforme são estudados pelos místicos. Procuraremos discuti-los usando alguns exemplos de carácter prático, fugindo, tanto quanto possível, daquela linguagem velada que normalmente é usado na divulgação de conhecimentos esotéricos, para que certas dúvidas e erros possam ser eliminados da compreensão dos discípulos da sua busca maçónica. Sabemos que grande número de estudantes têm dúvidas quanto ao significado esotérico dos números e, o que é pior, muitos têm ideias erróneas a respeito deles ou simplesmente não entendem o real significado dos três primeiros números.

As ideias deformadas derivam, segundo o nosso entender, da leitura de muitos livros que mais confundem as pessoas do que ensinam as verdades do misticismo, por isto não é sem razão que as ordens autênticas recomendam muito cuidado com aquilo que é oferecido em forma de livros aparentemente sérios.

Nossa intenção é dar respostas às indagações que nos têm sido feitas sobre os princípios ensinados pelas Ordens Iniciáticas usando uma linguagem clara, fácil e lógica, para que a matéria seja acessível ao iniciado de forma que ele possa ter alguma compreensão metafísica inerentes à natureza das coisas. Da maneira como o assunto actualmente vem sendo exposto em alguns livros, o iniciado certamente nada consegue entender, acaba por perder o seu precioso tempo ou, pior ainda, fica sujeito a confundir verdades com superstições como consequência de ensinamentos deformados de numerologia.

Procuraremos usar uma forma de linguagem simples, usar exemplos fáceis e claros, pois na natureza a verdade jamais é complexa. Onde houver complexidade indubitavelmente há erros. As leis naturais são fundamentalmente simples e isto se comprova à medida que elas são devidamente estudadas.

No passado, um tanto remoto, os algarismos, assim como as letras, traziam um duplo sentido. Um sentido comum, o que todos entendiam, profano, técnico, e, concomitantemente, um sentido essencialmente esotérico, isto é, um sentido oculto acessível só aos membros das sociedades iniciáticas. Noutras palavras, os algarismos tinham um sentido profano usado como meio de contagem, e um sentido iniciático indicativo de mensagens veladas.

É nosso intento fazer alguns comentários preliminares sobre o significado oculto dos números tentando retirar parte do véu de mistérios que envolvem o sentido esotérico do l, 2 e 3, sem nos aprofundarmos, porém nesses ensinamentos para não fazermos revelações não liberadas às pessoas não iniciadas.

Número 1
N Ú M E R O UM

Esotericamente diz-se que o UM não é por si mesmo manifesto e, por isso, ele não tem existência real para a nossa consciência. Vejamos o que isto significa.

Quem observar um pássaro pousado sobre um cabo eléctrico facilmente nota que nunca acontece uma electrocussão. Não acontece porque a ave não está ligada a terra, ou a um outro fio com diferença de potencial. Quando o pássaro está pousado em apenas um dos fios nada acontece com ele porque a electricidade está para ele em fase que podemos chamar "fase um". Somente quando uma outra situação se estabelece, que é a presença de um segundo fio por onde também escoe corrente eléctrica com um diferente nível (diferença de voltagem), é que acontece algo, isto é, a electricidade se torna manifesta e passa a existir realmente para a ave. Não sendo assim ela não sofre a mínima acção de qualquer coisa que exista ou que ocorra no fio em que está pousada. Alguém que esteja sem contacto com um segundo cabo ou com o solo não tem condições de saber directamente se este está ou não está electrificado. É absolutamente impossível sabê-lo, pois, naquela situação o fio é simplesmente um arame.

Vale notar o seguinte; mesmo que a ave nada sinta, ou que uma pessoa nada sinta, mesmo assim não há garantia de que um determinado fio esteja sem corrente. Absolutamente, o que ocorre é que apenas não há manifestação da corrente por falta de meios para evidenciá-la. Pode acontecer que entre o fio e o solo, ou que entre um fio e outro haja diferença de potencial, haja diferença de voltagem, então quando um contacto for estabelecido com aquele segundo elemento, é que surgirá o "choque eléctrico", a descarga eléctrica se tornará real. Enquanto não houver o segundo elemento nada se saberá a respeito da presença ou não da corrente. Corrente eléctrica em UM só fio, mesmo que em elevadíssimo nível de intensidade, não aquele uma resistência eléctrica, não acende uma lâmpada, não faz girar um motor e nem gerar qualquer tipo de trabalho. Para que ela faça tais coisas é necessária a presença de um SEGUNDO fio. Por esse exemplo podemos dizer que a corrente eléctrica está para o pássaro numa primeira condição, numa condição UM.

Evidentemente no fio existe algo, que a pessoa não se dá conta. Tomando-se UM só fio indiscutivelmente nele poderá "existir electricidade", contudo esta estará não manifesta, razão pela qual não é possível ter-se percepção directa dela.

Se numa sala escura colocarmos qualquer objecto negro, evidentemente este não será visível. Ele se comporta como se não existisse, embora esteja lá. Porém se clarearmos o objecto negro então ele se tornará visível.

Na primeira situação ele está na fase UM em relação à consciência, e quando clareamos criamos uma condição oposta, isto é, introduzimos o elemento DOIS que permite que o objecto (elemento UM) se torne visível. A recíproca é verdadeira, se clarearmos a sala o objecto aparecerá e passará a existir para a consciência objectiva.

Para demonstração prática da não manifestação de algo em condição UM, sugerimos o seguinte teste: Tome um recipiente de vidro, uma lâmina de vidro que possa ser colocada dentro do recipiente, e uma certa quantidade de água limpa. Em seguida coloque a água no recipiente e a lâmina de cristal dentro dele. Então, se verificará que a lâmina aparentemente some, como que desaparece, isto é, a pessoa deixa de se dar conta dela, é como se a lâmina desaparecesse, deixasse de existir para o observador. Porém, se for modificada a cor da lâmina - condição DOIS - ou a cor diferente da água - então a lâmina se tornara visível. Criando-se uma segunda condição oposta à primeira - cor da lâmina - então o evento torna-se consciente, torna-se visível. No primeiro caso a lâmina é fase UM em relação ao meio liquido em que está imersa. Também poderia ser derramado um corante no recipiente o que faria com que a lâmina de vidro se tornasse visível. O corante age com segundo elemento - o DOIS - sem o qual o evento não é detectado directamente pelo sentido da visão. Erroneamente alguém poderá julgar que neste teste o resultado é decorrente de uma incapacidade ou limitação da acuidade do sentido visual, contudo não é isto, pois se trata na verdade da aparente inexistência objectiva de qualquer fenómeno em fase UM.

Examinemos o problema com outro exemplo. A produção de energia hidroeléctrica. Suponhamos um lago em uma planície. Lago e terra sem qualquer potencial utilizável. Então elevemos o lago para um planalto e surgirá potencial hidroelétrico capaz de gerar energia. Lago e terra nos dois casos, porém na última situação há o acréscimo de uma segunda situação (DOIS) que é o desnível. O lago pode ser o mesmo, ele pode não mudar em nada quanto a sua natureza de uma para outra situação. A única diferença é que no segundo caso foi introduzida uma situação a mais, independentemente da natureza própria do lago.

No reino animal, nós vamos encontrar o princípio da não "manifestabilidade" do UM exactamente no mimetismo dos animais. Mimetismo é a capacidade que têm certos animais de tomar as cores do ambiente para se camuflarem e não serem percebidos pelos predadores. Certos lagartos e insectos confundem-se com o meio ambiente tornando-se "invisíveis" ao assumirem a mesma cor da superfície em que repousam. Forma um conjunto de uma só cor, razão pela qual torna-se de difícil visualização objectiva. Em essência o que acontece naquela situação é que o animal se torna uno com o meio, ou seja, ele fica na fase UM em relação ao ambiente.

A partir desse ponto queremos salientar algo muito importante. O UM não significa esotericamente algo inexistente. A fase UM existe realmente, mas apenas ela não pode ser directamente consciencializada. Nos exemplos que demos é fácil admitir que a electricidade existe num só fio, que a lâmina embora invisível existe no recipiente, que o animal embora oculto existe verdadeiramente sobre a superfície com a qual se confunde. Por meio de instrumentos que sejam capazes de estabelecer alguma forma de contraste o UM se torna detectável. Assim sendo podemos afirmar que a fase UM existe, mas nunca ela é detectada directamente. Quando um instrumento a detecta é porque o seu mecanismo estabeleceu alguma forma de contraste, de oposição, que se constituiu uma segunda condição.

Agora suponhamos um hipotético país em que só houvesse uma temperatura uniforme para todas as coisas. Em consequência, aquilo que chamamos temperatura jamais seria consciencialiizado lá. Nunca as pessoas se aperceberiam de algo para denominar temperatura onde ela só se manifestasse em UM só nível. Naquele lugar os seres somente teriam consciência de temperatura se houvessem variações térmicas. Se tudo tivesse uma só temperatura, se todos os climas e todos os objectos tivessem uma temperatura uniforme, constante, digamos 20º C., as pessoas por certo não teriam consciência dela e evidentemente não criariam sequer uma palavra, e muito menos um aparelho, para medir temperatura. Mas, mesmo as pessoas não se dando conta da existência da temperatura, mesmo assim aquele nível de calor existia. Tanto isto é verdade que se alguém de um outro lugar onde existissem variações térmicas lá chegasse ele teria por certo se daria conta da temperatura ambiente e até poderia determiná-la por meio de um termómetro. Para os nativos não haveria consciência de calor, de modo algum eles poderiam entender aquilo que o visitante estivesse falando ou medindo, pois somente conhecendo um nível térmico é que eles teriam consciência de calor. Este seria UM para eles. Certamente nunca se usaria um termómetro num hipotético mundo de uma só temperatura, pois, se descendência ali o calor, jamais surgiria a necessidade de medi-la e de construir um instrumento para medir algo que nem sequer suspeitava-se existir. Este tipo de descoberta só poderia ser feito por raciocínio dedutivo e não por registro objectivo.Temperatura uniforme 20º C seria fase UM.

Como podemos ver, a primeira manifestação de qualquer coisa é exactamente aquilo que se pode definir como o um esotérico.

Se todas as coisas do mundo, por exemplo, fossem igualmente verdes ninguém se aperceberia daquilo que chamamos cor, embora ela existisse realmente. Se num dado momento surgisse uma outra cor, o azul, por exemplo, só então as pessoas se aperceberiam de que algo estava existindo, perceberia que duas coisas estavam existindo, o verde e o azul, e então haveria a consciência de cor.

Diante de uma situação isolada nunca será perceptível a fase um por isto se diz que o um não tem existência real. Tem existência num sentido absoluto - como uma actualidade - pois desde que é passível de ser detectado dedutivamente, ou por meio de instrumentos, etc., mas num sentido relativo, isto é, em relação à consciência objectiva dos seres tudo se passa como se não existisse.

O UM representa a primeira fase da evolução de qualquer coisa que só se torna manifesta e consciencializável quando surge uma diferença de nível, uma polarização, uma segunda situação que lhe sirva de contraste.

Número 2
N Ú M E R O DOIS

Para que algo seja consciencializado é necessária uma segunda condição, ou seja, uma fase dois. Vamos chamar dois aquela condição que surge para complementar a manifestação da fase um. Nos exemplos dados a fase dois é o solo ou o segundo fio com diferença de potencial, no exemplo da ave; é a modificação de coloração do liquido ou da lâmina; é o desnível no do lago, etc. O pássaro só será electrocutado com o surgimento de uma segunda - dois - condição, se tocar um outro fio; o lago só terá potencial hidreoelétrico se estiver num nível elevado e o animal mimetizado só será visto se surgir um contraste entre ele e o ambiente. Agora vale notar que a fase dois complementa a fase um, mas não é de natureza diferente. A fase dois sempre é de idêntica natureza da fase um. Só se tem ideia daquilo que se chama "grande" porque existe o seu oposto, o "pequeno”; o escuro só é percebido porque existe o seu oposto, o claro; o bom, porque existe o ruim; o bonito, porque existe o feio; o rico porque existe o pobre, e assim por diante.

Como se pode perceber, o dois é o contraste do um. Sem o dois o um pode existir, mas não pode ser consciencializado, não pode se manifestar objectivamente por falta de um contraste. O um existe sem se manifestar, sem que se tenha consciência da sua existência até que surge a fase dois que é o seu oposto. O dois por si só também não se manifesta, pois é equivalente ao um. É necessário salientar que a fase dois é oposta à fase um, mas ambos nunca são de naturezas diferentes. São idênticas em natureza, mas situados em extremos opostos. O UM e o DOIS constituem apenas pólos opostos de uma mesma coisa.

Pensemos profundamente no seguinte: quantas coisas devem existir no Universo, mesmo em torno de nós, das quais não temos a menor consciência, exactamente por estarem na fase um em relação a nó!

Nos dois fios eléctricos citados não existem coisas diferentes em cada um deles e sim uma mesma coisa, que é o fluxo de eléctron. O que acontece é que num dos fios o fluxo é mais intenso em um que em outro. Disto decorre que quando se toca ao mesmo tempo nos dois fios há uma corrente de electrões oriundo do fio de maior fluxo para o de menor fluxo, mas em ambos a coisa é a mesma, tão somente fluxo de electrão. O lago, tanto no planalto quanto na planície, é uma mesma coisa, água e terra. Toda diferença reside no desnível que faz a água fluir do ponto mais elevado para o menos elevado. O grande e o pequeno são uma mesma coisa, pois aquilo que sobra em um corresponde exactamente aquilo que falta no outro.

Se todos os vales da terra fossem preenchidos, se pusesse terra neles, as montanhas desapareceriam também. Na montanha sobre terra, no vale falta terra.

Alguém é mau, por não possuir bondade; é pobre por não possuir riquezas; é baixo por não ter altura; é feio por não possuir beleza, etc. Adicione-se altura ao baixo, ele se tornará alto; bondade ao mau, ele se tornará bom; riqueza ao pobre, ele se tornará rico. Tire tamanho de uma coisa alta e ele se tornará baixa. Assim os opostos, o um e o dois são idênticos em natureza.

Vemos também que o um e o dois se completam e se comportam como pólos opostos de uma mesma coisa e disto à aplicação da Lei da Polaridade presente em todo o Universo Criado.

Para que a temperatura seja notada é preciso que existam pelo menos duas graduações de calor. Para que o dia seja notado é necessária uma situação oposta ao dia - fase um - que é a noite fase dois e então a pessoa se dá conta daquilo e assim surge a necessidade de uma denominação para as duas situações opostas. Mas, dia e noite, em essência, é uma mesma coisa. Noite é a ausência do dia e vice-versa. Isto é sempre válido, para que algo exista no atendimento da nossa consciência objectiva há necessariamente a obrigatoriedade de um contraste entre duas ou mais situações. Há necessidade de duas condições que se oponham para que algo tenha existência real para a nossa consciência objectiva. A mente objectiva é analógica, isto é só percebe por analogia, por comparação entre dois valores. A pessoa só se dá conta da existência da luz porque existe a treva como seu oposto, e vice-versa. Treva e luz é uma mesma coisa porem em polaridades opostas.

Qualquer coisa sem o seu oposto é como se não tivesse existência para nós. Assim são todas as coisas existentes no Universo.

Número 3
N Ú M E R O TRÊS

Vimos que ao surgir a fase dois a pessoa se dá conta da existência da fase um, isto é, o um se torna manifesto quando surge o dois e imediatamente surge sempre um elemento três, uma terceira condição.

O pássaro está pousado em um fio e nada acontece a ele, mas quando surge o contacto com o segundo fio - dois - imediatamente surge a terceira - três - condição que é a corrente eléctrica capaz de provocar uma electrocussão. Quando aquela lâmina de cristal está mergulhada na água ela está invisível, mas quando é posto um corante no líquido - fase dois - que determina uma diferença de cor entre o líquido e o cristal, imediatamente surge a consciência de algo - fase três - a lâmina de cristal. Na comparação entre a condição que se chama "bem" e aquela que se chama "mal" surge a terceira condição que é a ideia de bondade, e assim por diante. Sempre que se estabelecem duas polaridades em alguma coisa haverá simultaneamente uma terceira condição representada, no mínimo, pela consciencialização do evento.

Foi exactamente dessa interacção entre três condições, valores interligados, que as Doutrinas Místicas tiraram o SIMBOLISMO DO TRIÂNGULO. Geralmente para aquelas doutrinas o triângulo é sagrado porque representa graficamente a TRINDADE de todos os eventos, pois tudo o que existe pode ser estudado por um desdobramento de triângulos, ou seja, pela interacção dos três primeiros números esotéricos.

O número TRÊS simboliza a manifestação perfeita de algo, por ser a condição necessária para que a
consciencialização se apresente.

Podemos pressentir duas situações advindas da manifestação do Três:

A -
consciencialização de coisas abstractas;
B -
consciencialização de coisas concretas.


Como já citamos em alguns exemplos, mesmo as coisas abstractas, as percepções abstractas são também trinas em manifestação. Exemplo: grandeza é uma ideia abstracta, ela nada mais é do que a resultante de duas condições também abstractas que são a ideia do grande e a ideia do pequeno. Beleza é a consciencialização de duas situações abstractas opostas; feio e bonito. Assim, se pode afirmar que toda ideia abstracta também É susceptível de ser desdobrada em duas componentes. Se este desdobramento não for possível, certamente estaremos diante de uma ideia composta por várias trindades passíveis de sucessivos desdobramentos.


Consciencialização de coisas concretas:

Também no campo da conscientização de coisas concretas a Lei do Triângulo é soberana. Quando algo não for susceptível de ser desdobrado em duas componentes certamente ele é complexo e precisa sofrer vários desdobramentos secundários.

Tomemos como exemplo as cores. Aparentemente elas são inúmeras, mas após vários desdobramentos restará só três delas: Vermelho, Amarelo e Azul. Qualquer nuance de cor existente, essencialmente é o resultando de uma combinação em partes variáveis daquelas três cores fundamentais.

No Universo, com relação àquela condição objetiva que denominamos "tempo" há três situações a serem consideradas: PASSADO, PRESENTE, FUTURO. É pela comparação dos dois pólos passado e futuro que vamos encontrar o presente. O presente é uma idéia metafísica de concepção difícil. O que é o presente? Onde termina o passado e começa o futuro para que se possa situar o presente? Por menor que seja intervalo de tempo considerado sempre é possível que aquilo seja o passado. O "agora" somente existe em função das limitações sensoriais. O presente é apenas a conscientização das duas situações, passado e futuro. Por outro lado podemos dizer que praticamente o futuro não existe porque sempre que atingimos um momento que antes considerávamos futuro ele se torna presente. No sentido relativo o passado é UM, futuro é DOIS e presente é TRÊS. Como no sentido absoluto só existe o PRESENTE, logo só existe o TRÊS, mas como ele está só, então só existe o UM.

Tudo aquilo que existe é constituído de três partes, duas das quais constituem um bipólo.

Existimos num Universo, talvez de várias dimensões, mas para a nossa consciência objetiva ele se manifesta por três delas. Nossa consciência necessita apenas de três dimensões, por isto somos seres de um mundo tridimensional. Esta é a razão pela qual tudo que basicamente existe para nossa consciência é trina em essência, num mundo de mais dimensões a regra é outra conforme o seu número básico.

O Triângulo é a representação gráfica deste princípio fundamental da constituição das coisas susceptíveis de conscientização. Somente aquilo capaz de ser representado graficamente por um triângulo pode ter existência real para a nossa consciência porque somos adaptados a um Universo de três dimensões.
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Simbologia Maçónica

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Glossário de Simbologia Maçónica

Delta

Triângulo Sagrado. Símbolo da Divindade e da Natureza, emblema da Tri-Unidade.delta corresponde à letra G do código templário.

Delta luminosoSímbolo do Poder Supremo. Representa a Omnisciência. Nos templos maçónicos, localiza-se a Oriente, em cima do trono do venerável Mestre.
GLetra sagrada inscrita no centro do esquadro. Primeira letra da palavra Deus em inglês (God). Início da palavra Geometria (símbolo da arte da Arquitectura).
Olho

O olho inscrito no delta luminoso simboliza o Sol visível, fonte de luz e da vida; simboliza igualmente o Verbo, o princípio criador, a presença omnisciente de Deus, a omnisciência da razão superior, omnisciência do dever e da consciência. Corretamente desenhado, o olho não deve ser direito nem esquerdo, mas impessoal e abstrato.

ChaveSímbolo da fidelidade e da discrição. Emblema do Tesoureiro de todas as lojas e ritos.
ColméiaSímbolo do trabalho coletivo e da solidariedade, simboliza o trabalho maçônico.
Estrela de cinco pontasEstrela pentagonal, também chamada pentalfa, é o emblema da natureza e do homem que nesta se insere. As cinco pontas iguais correspondem à cabeça e aos quatro membros do ser humano. De vértice voltado para cima, simboliza a Vida em evolução, de vértice voltado para baixo, a Vida em revolução.
Colunas simbólicasSimbolizam a solidez de um edifício, quer seja arquitectural, social ou pessoal. As colunas simbolizam também a Árvore da Vida. As colunas indicam limites e geralmente enquadram portas. Simbolizam as colunas do Templo de Salomão, duas, em bronze, construídas por Hiram. A coluna da direita tinha o nome de Jaquin e a da esquerda o nome de Boaz. Nas lojas maçónicas, os aprendizes alinham pela coluna J, e os companheiros e mestres pela coluna B.
As colunas simbólicas têm romãs no cimo, à semelhança das colunas do Templo de Salomão.
RomãsAntes de mais, a romã é um símbolo de fecundidade. Maçonicamente simboliza a união de muitos mações em torno da maçonaria. Coroam as colunas de J e B dos Templos.
EsquadroResulta da união da linha vertical com a linha horizontal.Símboliza a perfeição, a retidão e também da ação do Homem sobre a matéria e da ação do Homem sobre si mesmo. Significa que devemos regular a nossa conduta e as nossas ações pela linha e pela régua maçônica.
CompassoTerceira das Grandes Luzes que iluminam a Loja. S ímbolo do espírito, do pensamento nas diversas formas de raciocínio, e também do relativo (círculo) dependente do ponto inicial (absoluto). Os círculos traçados com o compasso representam as lojas.
Águia bicéfala

Distintivo dos mais elevados graus da Maçonaria Filosófica e Administrativa. Emblema do grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Fio de prumo

O fio de prumo serve para verificar a vertical correta de qualquer lugar. Na Maçonaria especulativa o fio de prumo simboliza a profundidade e a retidão do conhecimento, sem quaisquer desvios. E tal como entre pedreiros o fio de prumo, associado ao nível e ao esquadro, permite construir com perfeição um edifício, da mesma forma, entre os pedreiros-livres, aqueles objetos são indispensáveis à perfeição do indivíduo.

Penas cruzadasSimboliza o Secretário de Loja.